O ridículo de nossa época não tem fim. Chanel fumava desesperadamente. Fazia parte de sua época fumar muito, beber à vontade, criar sem entraves e com paixão, desafiar o conformismo, lutar pela liberdade, projetar utopias, enquanto se tentava viver o presente com intensidade. O nosso tempo é o dos chatos e dos entediados.
Por Alcino Leite Neto da Folha de SP.
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MARIE RUCKI NO BRASIL
* Na foto Marie Rucki com Costanza Pascolato
A diretora do Studio Berçot, em Paris, Marie Rucki, esta dando uma série de workshops e conferências até sexta no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Neste primeiro dia, à noite, Marie falou a estudantes e profissionais do mercado sobre a nova geração da moda.
Em francês, a experiente diretora traçou paralelos entre o perfil dos jovens estilistas atualmente e há décadas. Segundo ela,
"as gerações mudaram e as necessidades também".
Com a globalização e a rapidez com que as informações de moda atingem diferentes cantos do mundo, há um novo ritmo no mercado, menos inocente e emocional, mais focado nos negócios.
Por meio da história de sete estilistas, em sua maioria, em início de carreira, Marie procurou mostrar como esta geração - na Europa e nos Estados Unidos - vê a moda e se relaciona com ela.
Hoje, disse ela, os novos talentos lançam-se na moda já sabendo onde querem chegar e como, têm objetivos claros dentro da profissão e não hesitam em partir para outros ramos ao longo da carreira. "Há 20 anos, quem queria ser estilista o era para a vida inteira. E deixava de ser apenas por fracasso. Agora não é mais assim", afirmou ela.
De acordo com os exemplos citados durante a conferência, que incluíram as trajetórias de Jean-Philippe Gawronsk, Talc, Adam Kimmel, Hedi Slimane e Christian Lacroix, muitos dos promissores profissionais entram na moda por interesse e afinidade, apesar de muitas vezes terem formações acadêmicas distintas, como arquitetura e direito. A sua visão de mercado, no entanto, chega a ser parecida: trabalhar em uma importante maison, pesquisar e analisar as características da grife, sua organização e criar um produto que se torne peça-chave da empresa. A presença de jovens nomes à frente de marcas tradicionais tem se tornado algo comum, em uma tentativa de refrescar e atualizar suas coleções, por exemplo a passagem de Alber Elbaz pela Yves Saint-Laurent e atualmente na Lanvin, ou de John Galliano pela Dior, e Olivier Theyskens pela Nina Ricci.
A nova geração, segundo Marie, conhece o mundo da moda, "o mundo mundano", e seus movimentos, é realista e possui raciocínio frio. Para eles, que flertam com as artes e vêm de uma certa elite econômica e intelectual, está claro que os produtos não são artigos para apenas uma estação e devem ser focados no individual, em oposição a uma estética industrial, mais geral. Sua pesquisa é profunda, desde os croquis, até a escolha do material, sua confecção e preço final, procurando aliar custo-benefício, qualidade e quantidade. Até sexta-feira, Marie Rucki abordará ainda o desenvolvimento do processo criativo, a moda como linguagem de nosso tempo, as grandes carreiras da moda, entre outros temas.